"A casa é o nosso canto no mundo. "
Gaston Bachelard , em A Poética do Espaço.
Como esta citação se tornou tão verdadeira
agora, no momento da separação desta,
que embora não tenha sido
a primeira, foi a nossa mais importante morada.
Aqui tivemos nossos devaneios,
realizamos alguns sonhos e
sonhamos outros.
Abrigados.
Aconchegados.
Alimentados.
Com as verduras da nossa horta.
Pudemos nos deitar à sombra das
árvores que nós mesmos plantamos,
na grama que plantamos juntos,
e algumas vezes aparamos,
outras varremos,
sob o olhar calmo e azul das hortênsias
que guardam o muro que nos guarda,
e que foi inspirado nas estradas floridas
de uma viagem ao sul.
Da frente da casa já não se vê
o sol se pondo na cidade ao longe,
mas a paineira continua firme,
com raízes profundas.
Solidez.
Esta casa representa solidez...
As lembranças estão por todos os cantos,
coisas que lembram várias vidas,
pessoas amadas que se foram
mas que não morrerão enquanto
delas nos lembrarmos.
E são muitos amores,
muitas fotografias junto ao poço-provedor,
o poço-protetor,
o poço do
"será que a chuva foi suficiente
para encher o poço? "
que só nós podemos entender...
Momentos que são a verdadeira
imagem do acolhimento,
mesmo evocando,
imagens de neve e de pão
assando lá fora.
Na nossa casa nos sentimos
livres para gostarmos sem medo,
para darmos asas à imaginação
e ao devaneio,
seguros e protegidos.
Aqui crescemos e nos multiplicamos.
Aqui a vida cumpriu seu ciclo.
Aqui aprendemos a gostar
e a cuidar dos animais,
e entendemos que vários pássaros
vivos e livres são muito mais
bonitos que qualquer ser vivo engaiolado.
E que eles, como nós,
precisam apenas ser alimentados e
protegidos com amor,
para voarem e viverem sem medo
ao nosso lado.
Aprendemos que amar é cuidar,
não prender.
Aqui passamos muitos domingos entre
família e amigos,
muitos Natais e aniversários,
entre flores e mesas ,
plantadas e arrumadas com todo carinho,
que nos mostraram o quanto éramos
queridos...
E se a nossa casa é o nosso mais íntimo e
essencial abrigo,
como reflete Bachelard,
são as lembranças do que aqui vivemos,
e sobretudo, na imensidão íntima que ressoa em
seu interior, que a nossa casa
nasce e renasce com o lastro humano
que hoje possui.
E que melhor destino poderia ela ter
do que se transformar em uma
escola infantil?
Foi uma alegria viver aqui!