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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A Beleza da Casa - Despedida

"A casa é o nosso canto no mundo. "
Gaston Bachelard , em A Poética do Espaço.

Como esta citação  se tornou tão verdadeira
agora, no momento da separação desta,
 que embora não tenha sido
a primeira, foi a nossa mais importante morada.

 Aqui tivemos nossos devaneios,
realizamos alguns sonhos e 
sonhamos outros. 
Abrigados.
Aconchegados.
 Alimentados.
Com as verduras da nossa horta.
Pudemos nos deitar à sombra das
árvores que nós mesmos plantamos,
 na grama que plantamos juntos,
e algumas vezes aparamos,
outras varremos,

 sob o olhar calmo e azul das hortênsias
 que guardam o muro que nos guarda,
e que foi inspirado nas estradas floridas
de uma viagem ao sul.

 Da frente da casa já não se vê
o sol se pondo na cidade ao longe,
mas a paineira continua firme,
com raízes profundas.
Solidez.
 Esta casa representa solidez...
 As lembranças estão por todos os cantos, 
coisas que lembram várias vidas,
pessoas amadas que se foram
mas que não morrerão enquanto
delas nos lembrarmos.
E são muitos amores,
muitas fotografias junto ao poço-provedor,
o poço-protetor,
o poço do 
"será que a chuva foi suficiente
para encher o poço? "
que só nós podemos entender...


Momentos que são a verdadeira
imagem do acolhimento,
mesmo evocando, 
imagens de neve e de pão
assando lá fora.


Na nossa casa nos sentimos

livres para gostarmos sem medo,

para darmos asas à imaginação
e ao devaneio,
seguros e protegidos.
Aqui crescemos e nos multiplicamos.
Aqui a vida cumpriu seu ciclo.

 Aqui aprendemos a gostar
e a cuidar dos animais,

 e entendemos que vários pássaros
vivos e livres são muito mais
bonitos que qualquer ser vivo engaiolado.
E que eles, como nós,
precisam apenas ser alimentados e
protegidos com amor,
para voarem e viverem sem medo
ao nosso lado.

Aprendemos que amar é cuidar,
não prender.


 Aqui passamos muitos domingos entre 
família e amigos,
muitos Natais e aniversários,

 entre flores e mesas ,
plantadas e arrumadas com todo carinho,
que nos mostraram o quanto éramos
queridos...

 E se a nossa casa é o nosso mais íntimo e
essencial abrigo,
como reflete Bachelard,


são as lembranças do que aqui vivemos,
e sobretudo, na imensidão íntima que ressoa em
seu interior, que a nossa casa
nasce e renasce com o lastro humano
que hoje possui.

E que melhor destino poderia ela ter
do que se transformar em uma
escola infantil?

Foi uma alegria viver aqui!


domingo, 19 de setembro de 2010

A Beleza do Ninho

Na semana passada recebi um e-mail
com várias imagens de ninhos.
Imediatamente lembrei do livro
A Poética do Espaço, de Bachelard.

  O espaço do ninho é o tema do quarto capítulo,
 no qual Bachelard tece uma associação das imagens 
do espaço e dos seres que os habitam. 


Logo no inicio do capítulo o autor cita a figura 
de Quasímodo, o habitante da catedral de Notre-Dame. 


Para este personagem, como afirma Victor Hugo,
 a catedral simboliza ao mesmo tempo 
“o ovo, o ninho, a casa, a pátria, o universo” ,
(Hugo apud Bachelard, 1974, p. 414)



ou seja, era sua morada, seu espaço íntimo
Quasímodo sente-se bem em seu refúgio, 
ele toma a forma do edifício.


 Este, por sua vez, funciona como um ninho
 ou uma concha, um abrigo onde ele pode 
“encolher-se no seu canto” . (1974, p. 415)



O ninho recebe, portanto, uma valorização
 de abrigo seguro, de uma construção singular 
que supera todo artifício humano dos construtores. 



O ninho, para os pássaros, 
é a síntese da morada da vida, pois acaba sendo, 
para os filhotes, sua penugem externa, a morada quente.


A alma é tão sensível a essas imagens simples que, 
numa leitura harmônica, ela percebe todas 
as ressonâncias. 

A leitura ao nível dos conceitos seria insípida,
 fria, seria linear. Ela nos obriga a 
compreender as imagens umas após as outras. 

 
E nesse domínio da imagem do ninho 
os traços são todos simples que é de surpreender 
que um poeta possa encantar-se com ela.

 
 Mas a simplicidade produz o esquecimento e,
 subitamente, tem-se gratidão pelo poeta
que encontra num estilo raro,
 o talento de renová-la. (1974, p. 420).

O devaneio da segurança, despertado pela 
casa onírica e o ninho, 
reforça a imagem da casa-ninho enquanto 
possuidora do formato do corpo.

 

A casa cola-se em nós, 
assumindo nossa forma,
 assumindo a função de abrigo e proteção,
 a imagem do nosso canto no mundo.




A casa é, dessa forma, um ninho no mundo; 
um ninho que é o  centro de um mundo (1974, p. 423).


Vemos, com isso, a importância do ninho na imaginação.
Quantas imagens um simples ninho suscita na imaginação humana!

 
É fantástico como o poeta dá continuidade a esta imaginação
 e a esta imagem: o ninho-casa, o ninho-abrigo, 


o ninho-segurança, 



o ninho-alegria, 



o ninho-mundo. 


Mais interessante, ainda, é que estas imagens não terminam, 



uma vez que a imaginação
continua a sonhá-las, a reinventá-las e renová-las.

Agradecimentos:
Rita Celina (que mandou o e-mail)

Centro de Estudos do Imaginário

Imagens da Net.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A beleza do Sótão


Discover The Morrows!



Ainda no momento "A Poética do Espaço"...

A geografia e a etnografia descrevem os mais diversos tipos de habitação, enquanto a fenomenologia procura revelar a "função original do habitar" e compreender o germe da "felicidade central, segura, imediata":
A tarefa báscia do fenomenólogo é "encontrar a concha inicial em toda moradia."
A explicitação da essência total da casa exige não só um desenvolvimento horizontal, mas também um desenvolvimento vertical.
Isto significa que as moradas devem prolongar-se para a altura e a profundidade, ou seja, devem ter um sótão e um porão:
Foto de Dantas 1977
"A verticalidade (da casa) é proporcionada pela polaridade do porão e do sótão".
O interior da casa repete o significado simbólico do de cima e do de baixo, e entre os andares existem as escadas:
Foto de Daniela Thompson
"A escada que conduz ao porão tem um caráter diferente da escada que leva ao sótão".
Descemos as escadas que conduzem ao porão e subimos as escadas abruptas que levam ao sótão: as restantes escadas nós as subimos e as descemos. Descer ao porão, onde a casa mergulha as suas raízes na terra negra e úmida, significa mergulhar na noite e no frio que moram debaixo da casa e, em princípio, só os homens vão à adega buscar o vinho. Subir ao sótão é ascender para a mais tranquila solidão.
Foto de Omar Junior
O sótão é o lugar onde ocorreram as birras de infância, a contemplação, as leituras intermináveis, o disfarce com as roupas dos nossos avós e a descoberta de imensas velharias que se ligam para sempre à alma da criança: os devaneios do sótão tornam vivos o passado familiar e a juventude dos nossos ancestrais.
Foto de fcalafrius
A casa é um "arquétipo sintético" que evoluiu: no seu porão está a caverna e no seu sótão está o ninho. O porão é a sua raiz e representa o inconsciente, enquanto o seu telhado é o ninho e representa as funções conscientes: "A casa oniricamente completa é um dos esquemas verticais da psicologia humana".

Quem nunca sonhou em ter um quarto de brinquedos no sótão da velha casa dos avós?


Foto de Rui Ornelas
Ou transformar num ninho , num espaço só seu, aquele sótão abandonado e esquecido?


Foto de LuPan 59

Não importa se está em uma casa antiga ou numa casa nova,
o sótão sempre evoca mistério e magia

Foto de Ivânia Trento

Pode ser limpo e vazio, embora isso seja temporário, pois os sótãos não ficam vazios
por muito tempo...é da natureza do sótão ser "aproveitado"

Foto de fcalafrius
Na maioria das vezes, para guardar coisas, verdadeiros tesouros,
Foto de fcalafrius
e quem nunca se divertiu revirando um sótão?
Foto de fcalafrius
abrindo os baús cheios de memórias de outras épocas
Foto de Boomerang!
e das histórias dos nossos antepassados?

Foto de Boomerang!
Eu fico particularmente encantada com as estruturas dos telhados.
Gosto das tesouras fortes e aparentes, do vigamento, das terças, dos caibros, e de como fazem um conjunto forte e seguro. Protetor.
Fotos de Daniela Thompson


Eu lembro do sótão da casa de praia da minha infância,
e das tardes que passei explorando revistas e livros antigos,
cheios de histórias, marcas, cheiros e poeira.


Imagem via Habitually Chic
Adoro essas imagens, de sótãos claros, frescos, amplos !

Os sótãos do meu imaginário são
misteriosos , divertidos , entulhados e ...

você?
Como são os seus sótãos?