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terça-feira, 27 de julho de 2010

A Beleza da Costura do Invisível

O CONAD 2010 teve muitos bons momentos.
Mas seu eu tivesse que eleger o melhor deles,
escolheria a palestra do estilista Jum Nakao,
"A Costura do Invisível."


Mais do que um estilista,
Nakao é um artista, um criador.
No início da palestra, com as luzes do auditório
 diminuídas e um slide onde estava escrito:


Ele inicia a palestra nos contando,
com sua fala tranquila,
um episódio que transformou a sua vida:
Durante uma viagem há alguns anos atrás,
 ele foi convencido a fazer um passeio
de veleiro, ao invés do passeio de lancha,
para o qual já havia comprado o ingresso.
No caminho, enquanto apreciava a paisagem,
passou rapidamente por eles a lancha cheia
de pessoas acenando.
Nesse momento o dono do veleiro observou:

Para as pessoas que estão naquele barco
não há passeio. Há apenas a linha de partida e
a linha de chegada.

A partir daí, Jum nos convida a um mergulho.
Um mergulho que transformaria nossas vidas.
O mergulho na criação, execução e apresentação
do fantástico desfile apresentado por ele
no Sao Paulo Fashion Week de 2004, 
conhecido como desfile da coleção de papel.


Este, que foi considerado o melhor desfile do século,
começou com o desejo de Jum de criar
um encantamento que durasse 5 minutos,
o tempo do desfile na passarela.


Ele nos conta sobre as dificuldades em conseguir
papel, patrocínio, enfim, sobre o árduo
caminho que levou 182 dias, mais de 700 horas
de trabalho, inúmeras pessoas das mais diversas
áreas trabalhando em conjunto,


que resultaram em roupas incrivelmente
elaboradas e inspiradas no séc XIX, e
totalmente feitas em papel.
As modelos usaram perucas playmobil,
fazendo uma referência à produção industrial
em contraste com a leveza e originalidade 
das roupas de papel, que transmitiam
leveza e inovação.


"E o contraste entre as referências,
a unicidade da indumentária do séc. XIX
e a reprodutibilidade do boneco playmobil,
criaria um instantâneo sem espessura:
passado e futuro juntos, evidenciando a
transitoriedade das estéticas e linguagens
e achatando inteiramente a perspectiva temporal.
Um novo sentido se criava, rompendo
as referências temporais. "


Todo o processo foi cercado de segredo,
ninguém sabia que as roupas seriam de papel,
nem mesmo as modelos, que acreditavam
que as roupas que estavam sendo costuradas
nos seus corpos (pois os modelos não permitiriam
ajustes posteriores), eram apenas a modelagem.


Depois de nos contar esta história,
Jum Nakao nos apresentou o vídeo do desfile,
em que ao final todas as roupas foram rasgadas
(as modelos só souberam que teriam que rasgar
as roupas minutos antes de entrarem na
passarela) e a reação de espanto 
e incredulidade tanto das modelos, 
quanto das pessoas que
assistiram ao desfile.


Jum Nakao fez do público parte do
processo criativo, pois queria eternizar a reação
do público diante da destruição de todo 
o trabalho ali apresentado.


Destruição?
Não para ele, que diz que todo o trabalho
em grupo, o aprendizado, o mergulho
necessário para criar algo realmente inovador,
foi o que ficou e marcou para sempre sua vida.


Com esta palestra,
Jum nos proporcionou uma viagem,
em que pensamos sobre o processo criativo.
Através de imagens e sons,
inquietações próprias dos que trabalham com
criação são trazidas à tona, e 
nos conduz ao mergulho para
desvendar o que não se vê sem
o pensamento, e nessas profundezas
nos tornamos parte desta
incrível e emocionante viagem.

Imagem via Casa.Com

E na mesma manhã em que soubemos
da perda de José Saramago,
Jum Nakao nos lembrou o que o
grande escritor não se cansava de declarar:
Que a essência é mais importante que a superfície.
Que o efêmero também pode permanecer.

E assim, a minha vida, e estou certa
que também a de muitas pessoas
que participaram deste mergulho,
mudou para sempre...

Assista o vídeo do desfile aqui.

domingo, 4 de julho de 2010

A Beleza do CONAD 2010- Muito Além do Cool Design

O CONAD  2010 , teve como uma das
palestrantes, a jornalista e especialista em
tendências de consumo, Luciana Stein,
que fez uma palestra brilhante,
"Muito Além do Cool Design".

Estamos vivendo o fenômeno do "agorismo"
(Nowism) , onde todos estamos on line o tempo todo,
 todos desejamos o real time, todos somos
multitarefas, e procuramos por
 gratificação instantânea.

Visualização do tráfego global on line

O mundo real, fluido e global,
inundado por informações o tempo todo, 
está mudando as expectativas dos consumidores.
Com a divisão entre o mundo on line
e o mundo físico cada vez menos definida,
há uma inevitável saturação e surge o
desejo de filtros, limpeza e foco.

Imagem de Mistdog no Flicker, via trendwatching.com

Há um deslocamento dos símbolos de status,
afinal hoje um número muito maior de pessoas
tem acesso ao que antes era privilégio de uma elite.


Hoje não é mais a marca da bolsa que dá status,
e sim a qualidade da conversa.
Não é mais a marca do carro que dá status,
mas as histórias das viagens e experiências.
Não é mais a grife da roupa que dá status,
mas as habilidades especiais que se possui,
como por exemplo: 

Ser generoso,

ter comportamento sustentável,

consumir menos,


ter agilidade digital,

Imagem de Alex Hawkinson, via trendwatching.com

saber, 
imagem de Vendimidia

e usufruir experiências.


"Depois das necessidades básicas atendidas,
nós esperamos experiências emocionais
mais sofisticadas e significativas.
Essas experiências não serão simples produtos,
serão uma combinação complexa de produtos,
serviços, espaços e informação. "
 Tim Braun

A partir deste ponto, utilizarei a postagem
de Luciana Stein , Design Detox,
em que ela fala específicamente sobre o
assunto da sua palestra,
"Muito Além do Cool Design. "

Os desejos de limpeza, filtro e foco se expandem a outras áreas.
Depois da aceleração e desgaste moda como segmento criativo,
 alguns designers começam a se perguntar se sua 
área de atuação não pode estar ameaçada pela mesma 
velocidade dos lançamentos e pela o “desejo de status” 
 que o design  alimenta. 
David Report, diz que estamos vivemos uma 
“Pandemia de Designismo” – um excesso de design.
David pergunta: 
” – Por que os produtos de consumo não podem 
coletar memórias como as poltronas de couro? 
Quando vamos aceitar o envelhecimento como o sinal de uma vida rica?”
Na visão dele, o design tem de deixar de ser hiperativo
 – como a internet – e encontrar maneiras genuínas 
de enaltecer a qualidade do cotidiano e  a experiência humana
 “O DNA do design tem de ser reconfigurado. 
Precisamos deixar o mundo melhor do que nós o encontramos”, 
escreve em seu manifesto. 
Ao mesmo tempo alguns designers como Philippe Starck evita usar o termo design.
Vocês devem ter visto a presença frequente 
do sal grosso nos cardápios dos restaurantes brasileiros.
 Rude, tosco, poucos ingredientes representam tão bem 
o desejo de desintoxicação: sal grosso 
para corpo, espírito e para limpar a casa.

Muitos dos últimos lançamentos no segmento da casa
evidenciam um questionamento
 dos rumos do design e outros sugerem uma desintoxicação. 
Pense sobre o lançamento da “Chairless” da Vitra,
 inspirada pela maneira com que os índios paraguaios sentam:  
amarrando as pernas contra o colo. 
A peça propõe uma outra maneira de se relacionar com o corpo 
– deletando o objeto de sentar. O corpo se torna a própria cadeira.

Imagem do site da Vitra

Já na criação do design japonês  Tokujin Yoshioka 
para a Kartell não há a eliminação presencial do objeto, 
mas ele parece que não está lá. 
Eleito uma das 100 personalidadeas mais criativas pela
revista Fast Company, Yoshioka criou “Invisible”. 
Trata-se de uma estrutura de policarbonato transparente.
 A idéia de uma cadeira invisível não é nova. 
Já foi feita por vários outros designers em outras épocas. 
Com o evoluir da tecnologia, entretanto, 
a cadeira invisível se torna ainda mais invisível
 pela qualidade de transparência do material.


Outros designer apostam numa estética “não projetada” 
– ainda que projetada por um designer. 
Poderia ser apenas um caminho criativo, mas ele traz reflexão. 
Pense na última coleção de móveis do arquiteto Marcio Kogan.
 Ela partiu das peças que os trabalhadores constrõem nos canteiros de obras. 
É cru, tosco, parece inacabado e vende muy bien na MICASA
 – vitrine do design contemporâneo de São Paulo. 


Pense no lançamento da marca A Lot Of em Milão, 
a cadeira “Homeless”, feita com cobertores  entregues nos abrigos.  
Com uma textura áspera, crua a peça traz o universo 
dos desabrigados para dentro do design.
Imagem de Delas

Essas peças citadas acima trazem uma qualidade anti-industrial. 
 Esse é o princípio inspirador da instalação “Autharchy”
do grupo  “FormaFantasma”. 
As peças são resultado de um processo artesanal
 que  propõe a autonomia na fabricação dos produtos: 
as peças são compostas em 70% por farinha 
e restos do cultivo da agricultura cozidas em baixa temperatura.


Tendências acontecem em ciclos.
 E para fechar esse ciclo da desintoxicação,
 fazemos um encontro entre o desejo de desintoxicação e a tecnologia.
 Design detox + tecnologia = “Tecno Tosco”, 
tendência explicitada nessa peça dos canadenses 
Trata-se de uma mistura de Steve Jobs com homem das cavernas.

Todos esses exemplos não são apenas ilustrativos.
 Eles trazem uma nova qualidade ao cotidiano.
 São produtos calcados numa outra sensorialidade. 
São projetos que miram um pequeno e influente 
grupo de consumidores mundiais que não se entusiasma
pela aquisição de mais uma cadeira assinada por um designer.
 Eles desejam mais do que isso. 
 Eles querem produtos que estejam vivos, 
que carregam memória – memórias deles mesmos,
 de outros mundos, de outros viveres. 
 Esses exemplos que citamos propõem 
uma evolução e um resgate. 
Mais do que produtos em si mesmos, eles são sintomas de uma época. 
 Abaixo, a caixa de som para iPod de Marcio Kogan.




Acaba aqui o ctrl c ctrl v do blog da
Trendroom, que é imperdível
e ficará no meu blogrool dos favoritos.

Para finalizar, Luciana propõe:

Em uma sociedade saturada de coisas fofinhas,
bonitinhas, o resgate do passado,
da memória e do toque,
podem trazer a emoção que tanto falta
nas Casas- Clínicas.
No que ficou conhecido como o cool design,
minimalista dos anos 90.

Boa semana!

domingo, 27 de junho de 2010

A Beleza do CONAD 2010 - Quando a Forma Excede a Função

A ABD 
( Associação Brasileira de Designers de Interiores ) 
promoveu em São Paulo,
nos dias 16, 17 e 18 de Junho,
o Congresso Nacional de Designers de Interiores
(CONAD) 2010, cujo tema foi:
Design é Emoção.

Vou dividir com vocês,
nesta e nas próximas postagens,
um pouco do que vi, vivi e principalmente
das minhas próprias emoções .

O tema da primeira palestra, 
da psicanalista  Andréa Naccache, foi
"O design da emoção: quando a forma excede a função."

Andréa propõe um mergulho interior,
em que a busca do auto-conhecimento,
a passagem do não-conhecimento ao conhecimento,
da cegueira à visão,
seja uma passagem para o outro lado.
E a vertigem que esta passagem provoca,
é a emoção.

Para ilustrar esta idéia, Andréa conta a história
de Phillipe Petit, o equilibrista
que em 07 de Agosto de 1974,
clandestinamente se equilibrou por 45 minutos
em uma corda esticada entre as duas
torres do World Trade Center,
em Nova Iorque, até então
os mais altos prédios do mundo.


Depois que Petit desceu das Torres,
e foi imediatamente deitido pelas autoridades,
ele foi questionado inúmeras vezes:
Porque?
Porque você fez isso?



E no documentário, Man on Wire,
podemos ver o espanto deste homem
diante das pessoas que não entendem
que ele realizou uma coisa linda,
uma experiência fantastica, 
e elas só querem saber...
o porque.

Ele responde:
Não existe um porque.
There's no why.


A emoção , portanto,
está na experiência que transforma,
 a emoção está na forma (id)
e não na função (ego).


Andréa nos contou também
sobre os peixinhos de Frank Gehry,




Arquiteto mundialmente famoso
pelo projeto do Museu Guggenheim de Bilbao,
entre outros tantos prédios incríveis,
e que tem uma obssessão por peixes.




"Eu nunca tive a intenção de construir peixes,
mas eles tem vida própria. "
Frank Ghery




No documentário "Esboços de Frank Ghery"
de Sydney Pollack,
entendemos que no processo criativo,
no mergulho, no limiar da linguagem e do
pensamento existentes, 
o acordo dos outros não importa. 





Porque no íntimo de cada pessoa há sempre
uma forma poética louca, mas que produz sentido.
Nas mãos e no olhar, há sempre caminhos
surpreendentes, singulares, contingentes.
E repentinos.


A surpresa é emoção.


Agradecimentos:
ABD
Andréa Naccache

Créditos das Imagens:
Angel Inowe
E.T, telefone, minha casa