terça-feira, 2 de setembro de 2008

A beleza do Cansaço - de novo!

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -essas e o que faz falta nelas eternamente -;

Tudo isso faz um cansaço,este cansaço,cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
-três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
porque eu amo infinitamente o finito,
porque eu desejo impossivelmente o possível,
porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,ou até se não puder ser...

e o resultado?
para eles a vida vivida ou sonhada,
para eles o sonho sonhado ou vivido,
para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
para mim só um grande,
um profundo,e,
ah com que felicidade infecundo,
cansaço,
um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,cansaço...

*Álvaro de Campos

Nenhum comentário: