sexta-feira, 1 de maio de 2009

A beleza da avó


Quem tem ou teve uma ou duas avós,
dessas avós presentes na vida da gente,
dessas avós que sempre sabem
como fazer a gente se sentir melhor,
seja lá qual for a situação,
tem muita sorte!
Hoje é o aniversário da minha avó Nadir,
e embora ela já tenha ido para o céu,
ela está sempre bem viva na minha memória.
A minha avó Nadir era só minha.
Pelo menos era no que eu acreditava,
pois, sortuda como sou,
a primeira vez dela como avó foi comigo
e durante 4 anos inteirinhos,
ela foi só minha.
Depois eu fui obrigada a dividí-la com o meu irmão,
mas, egoísta como são as crianças,
eu não a dividi assim, honestamente ...
A minha avó Nadir era mágica,
mas eu nunca contei este segredo para ninguém.
E até hoje eu não consegui descobrir,
como é que ela sempre sabia o que fazer
para me dar exatamente o que eu precisava,
na medida certa, na hora certa e principalmente,
na dose certa.
Quando eu fiquei "mocinha",
foi ela quem descobriu e me disse que era só isso,
que não era o fim do mundo
e muito menos uma diarréia incontrolável e esquisita
que não dava dor de barriga nem enjôo,
que era o que eu pensava que estava acontecendo,
apesar das explicações e prevenções
da minha mãe sobre o assunto.
Quando eu roía as unhas até sangrar
era ela que fazia mingau de maizena para curar
as unhas e a ansiedade pré-adolescente,
porque pelo menos naquele momento,
ao comer pelas beiradinhas para não queimar a língua,
eu fazia um exercício de paciência e tolerância.
(confesso que o remédio era tão bom,
que muitas vezes eu exagerava no ataque
já pensando no mingauzinho!)
Quando eu quis aprender a jogar tênis,
foi ela quem patrocinou o uniforme e equipamento completos.
Tudo do jeito que eu queria, do modelo que eu queria,
para fazer o sucesso que eu imaginava que faria,
se tivesse aquela estampa.
Como correr atrás das bolinhas perdidas
não era bem o que eu tinha em mente,
não foi ali que nasceu uma atleta,
mas ela nunca disse uma única palavra de cobrança
ou de desapontamento.
E continuou incentivando e patrocinando
curso de inglês,
aulas de tricô,
e tantas outras coisas.
Quando aos 14 anos,
antes de uma viagem de férias
que eu faria com meus pais e irmão,
em que eu ia encontrar uma paixão platônica
que não via há muito tempo,
eu surtei achando que precisava emagrecer e perder "barriga",
era a Vó Nadir que ficava horas,
todos os dias,
sem nunca me tirar a esperança de conseguir,
segurando as minhas canelas
enquanto eu fazia abdominais sem fim...
Os encontros com os namorados,
aconteciam nas escadas do prédio dela.
Os telefonemas intermináveis ,
aconteciam na extensão do corredor da casa dela.
As chegadas depois das festinhas,
aconteciam na casa dela,
que invariavelmente estava esperando,
fosse a hora que fosse,
com a mesma cara boa de sempre,
um tricô nas mãos,
e os olhos pequenininhos de sono.
Uma das mais antigas lembranças que eu tenho de mim,
é em um inverno no Rio de Janeiro,
e eu loirinha e branquinha, fazendo o maior sucesso
vestindo um poncho vermelho, azul e branco,
que a Vó Nadir tricotou para mim.
Foi ela quem me levou ao cinema
para assistir "E o Vento Levou",
foi ela quem, com lágrimas nos olhos,
me falou pela primeira vez
do filme Luzes da Ribalta,
foi tocada no piano por ela,
que eu ouvi pela primeira vez Le Lac de Comme,
foi ela quem me levou para assistir
o meu primeiro concerto de orquestra sinfônica,
com o Arthur Rubinstein como solista.
Nas férias de verão na praia,
era uma delícia entrar na água com ela,
sentar na perna dela,
e cantar com ela
"ópe, ópe, ópe, vamos a galope..."
Aprendi a chapinhar com ela,
aprendi a fazer pudim de leite condensado com ela,
aprendi a fazer tricô com ela.
Ninguém jamais preparou um peixe à escabeche como ela,
nem o bacalhau do Natal,
e muito menos o bolão do bacalhau que sobra do Natal,
muito embora a minha mãe seja uma cozinheira e tanto,
e a minha tia Vivian seja bastante esforçada,
comida de vó é simplesmente inimitável,
porque comida de vó é alimento para a alma.
E eu sou mesmo uma pessoa de muita sorte
por ter tido o privilégio de ser neta dela!
Com o carinho e a gratidão que eu sempre terei,
Feliz Aniversário,
minha inesquecível e muito amada,
avó Nadir!

14 comentários:

Luiz Borges disse...

Elsa, parabéns pela vovó Nadir, e para comemorarmos, que tal um pudim de leite condensado?
Um beijão do teu Filósofo.

Marisa Pimenta disse...

Ana, eu tb fui privilegiada, pois tive duas avós super especiais. No blog vivendodehistórias escrevi sobre as duas em posts diferentes , se quiser conhecê-las é só passar por lá, são postagens mais antigas.Obrigada pelo comentário sobre nossos amados gatitos.Como vc disse só quem convive com eles dá o real valor. Espero q a Fluffy esteja bem, beijo p ela e bjks p vc.
Apareça no MarisArte

Ivo e Fátima disse...

Oi Aninha

Série Recordar é Viver (estamos nós a imitar a Pandinha linda).

Cá está mais um privilegiado que também chegou a ter duas avós.

A mãe do meu pai, a Vó Nena (também fui o primeiro neto), morreu logo depois que me casei, e não chegou a conhecer os bisnetos. Ela morava ao lado da nossa casa, logo eu "vivia" lá. Como era gostoso ir na casa deles (vô e vó), descer no porão para "roubar" umas Wimis ou bolacha maria da Lucinda, que eles compravam direto na fábrica em umas latas enormes. Como era bom ir com eles na fábrica comprar as bolachas. Aos domingos, íamos toda a família almoçar fora, e me lembro até hoje que ela pedia um prato que era uma "mistura" de tudo, chamado de "pout pourri" (será que é assim mesmo que se escreve?), sempre acompanhado de água tônica. Meu paladar infantil achava estranhíssimo alguém gostar daquele treco amargo...

Minha vó Elza (veja só...) morava em São José dos Pinhais, e o programa de toda tarde de domingo era a "viagem" até a casa deles para o lanche familiar. Mas nada se comparava às férias de pré adolescente (e veja como funciona nossa memória - me lembro de estar na casa deles no dia em que foi editado o famigerado AI-5...). Sempre em São José, na casa da vó. O bife com arroz e batata frita era imbatível - ninguém jamais chegou a algo igual - nem mesmo a Fátima (outro dia ela conseguiu algo próximo, mas faltou a batata frita e aquele toque de avó no bife...). E o Toddy com leite condensado à noite? Nunca faltava, assim como as gasosas de framboesa. Coca-cola? O que era isso? Nós adorávamos mesmo era a gasosa vermelha, que nunca faltou na casa deles ate; o dia em que se foram, perto dos 90. Felizmente, viveram o bastante para aproveitar também os bisnetos.

Puxa Aninha, esse teu post de hoje realmente me pegou. Muito obrigado por me ter dado a oportunidade de reviver esses grandes momentos da minha vida, que a correria de hoje não nos dá a oportunidade de saboreá-los adequadamente.

Um grande GRANDE beijo (no Gafa, MUITOS abraços).

Ivo

P.S.: Não deixe de mexer bastante na papelada...

Panda Lemon disse...

Eu, durante a infância só tive uma vó e um vô (pais da minha mãe) que moravam no interior de São Paulo e que por isso só a via 2 vezes por ano, o que só tornava tudo mais gostoso, a ponto de eu sempre voltar pra Curitiba chorando, com vontade de curtir mais... e depois que eu conheci o Bruno, ganhei de quebra duas vós bem porretas que eu amo e já declarei que são minhas também... hehehehe! Que delícia que é vó! Parabéns, Aninha, pra vc e pra sua vozinha que está no céu! Amei sua postagem de novo! Vc sempre se supera!!! Adoro o seu blog. Bjos e até terça (uhuuu! vamos torcer para que sim!)

Anônimo disse...

Olà,Achei muito bonito!!!Eu tambem tinha duas avos extraordinarias...Obrigada
Caroline

Anônimo disse...

Essa era realmente a minha vó!!! E não foi só com o seu irmão que você foi obrigada a dividí-la!! hahaha Se com você ela teve a primeira vez, comigo teve a última... =( Mas como você disse você foi mais sortuda do que eu e teve o prazer de sua companhia por mais tempo!! Tá lindo Ana!! Bjoka! Marce

Ana Balbinot disse...

A todos os amigos que deram aqui os seus depoimentos, um super muito obrigada!
Ana

Fátima disse...

Oi Ana, achei a sua homenagem tão linda e fiquei mortinha de inveja...eu praticamente não tive avó! A unica que cheguei a conhecer morreu quando eu tinha só 7 anos e ela já era bem velhinha e nem falava portugues... A "Sete" da Água-verde! Só uma vaga lembrança... Acho que é por isto que estou na maior torcida para ser avó, tenho praticado bastante com os netos da minha irmã e garanto, já estou no ponto!
Beijo e Salve a Vó Nadir!!!
Fátima

Anônimo disse...

Essa era a minha mãe... Você me fez chorar!!!
Beijos
Vivian

Ana Balbinot disse...

Fátima, sem querer ser "puxa-saco", esse ou esses netinho (s) ou netinha(s) já têm a estrela da sorte, mas aquela estrelona mesmo!
Porque você e o Ivo formaram uma família tão incrível, com tanto amor e em que todos nós "agregados" nos sentimos tão bem vindos, que os seus netos serão,sem a menor sombra de dúvida, os verdadeiros ganhadores da mega-sena das famílias!
Beijos

Adriana Ximenes disse...

Obrigada Querida, pelo seu carinho.
Grande beijo.

donachicosa disse...

Menina,

Você me fez chorar com essa declaração de amor tão linda.
Também tive uma avó maravilhosa e sempre presente como a sua. Era para ela que eu corria quando desejava algo ou alguém que me desse colo...ela foi tão importante prá mim ao morrer me deixou durante algum tempo vazia. Sua voz até hoje ficou na minha lembrança pois todos os dias cedinho me liga para saber se estava tudo bem.
Hoje sou avó de um menino lindo e, ontem soube que serei novamente. Farei tudo para que ao partir, também deixe tantas lembranças boas quanto as que deixou em mim minha avó Heloisa e que até hoje aquece meu coração.
Lindo o seu texto.`parabéns a nós que tivemos essa sorte.
Beijos querida.

Anônimo disse...

Bom dia Ana,
Muito legal o seu texto. Impossível de ler sem se emocionar!!

Beijos.

Rubens

luiz bocian disse...

Olá Ana,
Gostei muito do seu blog, perfeito. Se por acaso eu já deixei meu recado desculpe. Eu sou do FOTOS DE CURITIBA, gostei que vc não tirou meus créditos como muitos fazem.
Parabéns e um grande abraço.
Luiz Bocian