terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Beleza da Carta ao Papai Noel

Curitiba, 23 de Dezembro de 2010

Querido Papai Noel,

Sabemos que o senhor deve estar muito ocupado preparando os presentes de Natal de todo mundo, por isso mesmo queremos dizer para o senhor não se preocupar com a gente, porque eu e meu irmãozinho já ganhamos um presentão do Papai do Céu.
Nós nascemos no finalzinho de outubro, no Cemitério Municipal, que não é exatamente um lugar para se nascer, mas foi o único lugar que a nossa mãezinha encontrou para se proteger na hora do parto. Mas o senhor sabe,  né Papai Noel, a sobrevivência de gatinhos de rua recém nascidos é muito difícil, e eu e meu irmãozinho ficamos uns 45 dias sozinhos (não lembro até quando a nossa mãe ficou junto),  sem abrigo e o que é pior, sem enxergar nada por causa de uma conjuntivite muito forte que a gente teve e que foi ficando muito feia porque a gente não tinha nem comida nem remédio.
Foi aí que no dia 16 de Dezembro ( era uma quinta feira) o papai do céu mandou o nosso presentão! Acontece que a Vó Vivi e a Bisa Vilma, estavam no cemitério por causa do aniversário do Tataravô Victor, e quando elas já estavam indo embora, viram a gente sair da manilha do cemitério. E, como a gente estava ceguinho e com muito medo, a gente andava meio se batendo, meio caindo. Daí elas foram olhar a gente mais de pertinho quando de repente a gente ouviu a Vó Vivi chorar muito e a Bisa perguntar “Mas que tipo de gente fura os olhos de 2 bichinhos desse jeito?”
Nossa, Papai Noel, o senhor não tem noção da confusão que foi a partir daí! A Vó Vivi, chorando sem parar, pegou a gente e colocou dentro de uma caixa, a Bisa ajudou a fechar a caixa com uma sacola de plástico, e a Vó Vivi falou por telefone com a Dinda Marcela um monte de coisas, e a gente só sabe que de repente a Dinda tava junto com a gente também, e elas ficavam chorando e falando no telefone, e levando a gente pra um monte de lugares, mas ninguém queria ficar com a gente.
Aí a gente foi num médico , o Tio Heitor, que examinou nós dois e disse que nossos olhinhos não estavam furados, só que estavam com uma conjuntivite muito , muito feia, e que a gente tinha que tomar antibióticos e usar colírio.
A Vó Vivi e a Dinda acabaram tendo que levar a gente pra casa delas, mas elas estavam muito preocupadas porque o Vô Dado podia achar que elas estavam querendo ficar com a gente pra sempre, e ele não ia concordar com isso, por que lá na casa deles já tem 3 gatinhos.A sorte é que o Vô Dado concordou em deixar a gente lá enquanto a Vó e a Dinda tratavam da nossa saúde, que estava bem ruinzinha!
Papai Noel do céu, de repente a gente ganhou uma casa, cama quentinha, comida, caixa de areia, remédio, leitinho morno e o mais importante de tudo, a gente ganhou muito, mas muito mesmo, amor e carinho!A Vó Vivi e a Dinda Marce nem dormiam mais. Elas nos deram banho e ficavam o tempo todo com a gente no colo, a Dinda tirou TODAS as nossas pulgas, e olha Papai Noel, elas eram muitas e muito gordas, porque elas estavam comendo a gente vivo! Ah que maravilha que foi, Papai Noel! Respiramos aliviados, até porque elas colocaram uma máscara de inalação na cabeça da gente para ajudar a gente a respirar melhor, porque nossos pulmõezinhos também estavam bem prejudicados.
Naquela noite choveu muito forte, e a gente ouvia o barulhão da chuva lá fora e pensava que por pouco, pouco mesmo, a gente ia estar lá no meio da tempestade, sendo arrastado, fraquinhos e sem enxergar, e isso teria sido a nossa morte certa. Mas graças ao Papai do Céu, nós estávamos quentinhos, seguros e alimentados! Nem dava para acreditar na nossa boa sorte!
Mas no sábado o meu irmãozinho começou a ficar muito doente, geladinho, e a Vó e a Dinda ficaram desesperadas! A Dinda gritava que não era pra ele morrer, porque ela não tinha trazido ele pra casa e cuidado dele pra ele morrer. Nossa, eu fiquei com muito medo! Ele ficava molinho, não conseguia nem segurar a cabeça e não tinha nenhuma reação. Eu ia perder o meu irmãozinho e ficar sozinho...
Mas sabe o que aconteceu? Mais uma vez o amor delas salvou o meu irmãozinho. Ele lutou, lutou e conseguiu sair daquele túnel com uma luz branca no final, porque ele ouviu a Dinda Marce chamar e resolveu voltar. Quando ele acordou estava bem mais fraquinho, porque acabou perdendo peso, e ficou tão magrinho que a balança do Tio Heitor nem marcava o peso dele.
A Vó e a Dinda tiveram que colocar a comidinha dele dentro de umas seringas e davam na boquinha dele. Nem água ele tomava mais, elas também davam soro na seringa pra ele. Mas ele lutou muito porque ele não queria que a Vó e a Dinda ficassem tristes, e porque ele não queria me deixar sozinho também.
De vez em quando a gente ouvia a Vó e a Dinda contarem para alguém no telefone, tudinho que tinha acontecido com a gente naquele dia. Parece que além delas, tinha mais alguém que se importava com a gente, além da Bisa Vilma, que também sempre perguntava como estávamos.
Eu fui ficando cada vez melhor, só um olho que estava doendo, mas como o outro estava bom, eu conseguia enxergar meus pratinhos de comida e minha caixa de areia. Mas o meu irmãozinho estava demorando pra ficar bom. Papai Noel, o senhor não imagina como ele ficou pequenininho! Quando eu encostava nele, sentia todos os ossinhos...Eu sempre ficava por perto, e fazia umas brincadeiras para ver se ele ficava mais alegrinho, e as vezes ele até ficava, mas ainda comia muito pouquinho e os olhinhos não abriam. Foi um sufoco!
Por causa de tudo isso, a Dinda Marce começou a falar que queria ficar com o meu irmãozinho e que quem sabe uma tal de Ana ( aquela dos telefonemas) não ia querer ficar comigo, mas a Vó Vivi dizia que não dava pra ficar com 4 gatos em casa, e mais um monte  de outros motivos pelos quais a gente não ia poder continuar lá. Então eu sabia de duas coisas trágicas sobre o nosso futuro:
1)   A gente ia pra outro lugar e não ia continuar naquele lar com aquelas pessoas que nos amavam e a quem nós devemos nossas vidas e a quem amamos e amaremos todos os minutos das nossas vidas para todo o sempre
2)  Eu e meu irmãozinho seríamos separados e nunca mais nos veríamos
Papai Noel, dá para o senhor imaginar o medo e a dor que a gente sentia? Meu único amigo, meu irmãozinho querido ia ser tirado de mim! E eu duvidava, Papai Noel, que um de nós tivesse a super sorte de encontrar pessoas tão boas, generosas e amorosas como estas desta família , porque afinal, a gente já tinha gastado a sorte de toda uma vida até ali!
Então, em uma tarde de 4ª feira, no dia 21 de Dezembro, a Vó colocou uma toquinha de Papai Noel na minha cabeça e uma fita vermelha e dourada no meu pescoço, e me levou até o elevador. Eu quase morri, Papai Noel! Achei que tinha chegado o dia da separação. Nunca senti tanto medo na minha vida!
Mas quando a porta do elevador abriu e a Vó disse : “Surpresa! Teu presente de Natal!”Eu ouvi uma voz fininha dizer bem calma: “É mesmo, dá ele aqui!”
E eu fui pra um colo fofinho e com cheiro de ...gatos! As mãos dela sabiam direitinho onde me afagar, e ela falava palavras doces no meu ouvido. Seria possível, Papai Noel, que mais uma vez a gente tivesse tanta sorte? Mas e o meu irmãozinho doentinho? Se eu fosse embora com ela, o que ia acontecer ele? Será que ele teria tanta sorte quanto eu e encontraria alguém legal? Foi quando eu pensei que tinha que dar um jeito pra ela levar ele, e não eu. Porque, como eu sou mais fortinho, poderia agüentar melhor se por acaso fosse adotado por alguém com poucas condições, tanto de cuidar de mim, quanto de gastar com a minha saúde. Foi aí que eu resolvi, Papai Noel, que ou ela levava meu irmão junto, ou levava só ele!
Eu fiz de tudo para mostrar pra ela que quando ele ficasse melhor, ele ia ficar que nem eu, porque o senhor sabe como é, ninguém quer adotar um bichinho doente e com grandes chances de morrer nas próximas horas, ou de ficar cego, ou sei lá mais que outras conseqüências trágicas que ele poderia ter por causa do nosso começo de vida tão difícil e sofrido.
Eu pulei, brinquei de esconde-esconde, vocalizei, me mostrei de tudo quanto foi jeito, mas sempre ia dar um cheirinho no meu irmãozinho para ela ter que olhar pra ele. A Vó tava com ele no colo, aliás, desde que ele teve aquele choque que a Vó nem saía de casa e ele estava sempre no colo dela ou no da Dinda. Aí a Ana (era ela, a dos telefonemas) pediu pra Vó pra pegar ele um pouquinho. Que maravilha, Papai Noel! Meu truque tinha dado certo! Agora era só eu fazer um pensamento bem forte, que tudo ia dar certo e a Ana ia escolher ele para adotar. Eu ia conseguir salvar meu irmãozinho!
Elas ficaram lá conversando, e a Vó estava muito feliz porque a Ana tinha me aceitado e tinha sido bem mais fácil do que ela pensava ( ela tinha medo que a Ana não me quisesse porque ela também já tinha 2 gatinhas e o marido dela estava desempregado ) , e o Vô ligou e ela contou toda feliz que eu ia ficar com a Ana. Quando a Dinda Fer chegou, ela também ficou toda feliz porque a Ana ia ficar comigo, mas o que elas não sabiam é que eu estava fazendo uma espécie de lavagem cerebral na Ana para ela escolher o meu irmão e não eu.
Quando a Dinda Marce e o Vô chegaram, ela também ficou bem feliz de saber que a Ana ia me levar, e ela ainda ficou dizendo pra Vó que bem que elas podiam ficar com o meu irmãozinho, que ela ia fazer barra para fora ( que será que é isso?) para assim ganhar dinheiro para ajudar nas despesas, mas a Vó não arredava o pé, e ficava dizendo que não dava, que não tinha espaço nem tempo nem condições de ficar com 4 gatos.
Então, Papai Noel, eu ouvi a frase mais mega top dourada que eu jamais ouvirei em toda a minha vida! A Ana disse “acho que eu vou ficar com os dois.”
Eu devo ser um expert em lavagem cerebral, pois consegui muito mais do que aquilo que eu queria: não vou me separar do meu irmãozinho, vou estar sempre com ele, cuidando dele, e vamos ser adotados por alguém da mesma família da Vó e da Dinda, o que significa que também não nos perderemos delas! E nossa nova mãe me pareceu ser de confiança, ela até parece com a  Vó e as Dindas. Ufa! Que sufoco!
Depois que ela falou isso, começaram a combinar como é que ia ser a logística, quando que a Ana (vou chamá-la de mãe a partir de agora) ia levar a gente, enfim, estavam fazendo os planos para o futuro, e as palavras delas soavam como música nos meus ouvidos! Parece que todo mundo estava feliz, menos um tal de Luiz, que poderia não ficar nada feliz com a chegada da gente. Quem será que era esse cara?
Os planos iniciais eram que a mãe ia pegar a gente no almoço de Natal, lá na casa da Bisa Vilma. Até lá a gente ia ficar na casa da Vó, continuando nosso tratamento de saúde. A Dinda Marce teve que sair e disse para a mãe que a melhor coisa que ela poderia ter feito na vida era decidir levar nós dois, e que agora ela ia poder dormir tranqüila, porque sabia que nós seríamos tão amados e bem cuidados como se estivéssemos com ela. Tudo estava se encaixando muito bem e o futuro parecia sorrir para nós. Meu irmãozinho ficou tão feliz, que pela primeira vez em dias, comeu 10ml de ração na seringa. Só a sombra do tal Luiz, me assustava um pouco.
Mas de repente, sem mais nem menos, a mãe telefonou para o tal Luiz e disse que já tinha escolhido o presente de Natal que ele ia dar para ela e que não aceitava contestações, e que o presente éramos nós, sim Luiz, os dois, dizia ela, e eu ouvi uma risada gostosa vindo de dentro do telefone, e um “pode trazer” como resposta. E foi aí que a mãe achou melhor levar a gente naquela noite mesmo. A Vó e o Vô empacotaram todas as nossas coisas, a Vó sempre chorando muito, demos tchau pra Dinda Fer e pedimos pra ela mandar um beijo pra Dinda Marce, e lá nós fomos para a nossa nova e definitiva casa.
E aí, Papai Noel, agora o senhor está entendendo porque a gente não precisa de presente de Natal?
Desde então, nós temos sido os gatinhos mais felizes que jamais existiram, porque ganhamos uma mãe super dedicada e que ama a gente como se a gente tivesse saído da barriga dela, um pai super bacana que ajuda a mãe a cuidar da gente, e continuamos pertinho da Vó, do Vô e das Dindas. Quer presente melhor que esse? Tudo bem que a gente tem umas irmãzinhas meio ciumentas e ressabiadas, mas tenho certeza que com o tempo elas vão gostar da gente!
Nossa primeira noite na casa nova foi bem legal, a mãe obedeceu bem direitinho as instruções da Vó e do Vô, e passou a noite inteirinha acordada cuidando da gente.
No dia seguinte conhecemos nossa irmãzinha Carol, que , encantada com a gente ficou cuidando de nós o dia inteiro enquanto a mãe estava trabalhando. É Papai Noel, a gente ganhou na mega sena dos gatos, acumulada de Natal!
E como se não bastasse, a mãe e a Vó levaram a gente ontem na médica das gatinhas da mãe, a Tia Marúcia, que foi professora do Tio Heitor, e pelo jeito ela é mais sabida que ele, porque logo viu que o colírio que a gente estava usando não era o certo, e mandou a mãe levar a gente numa outra tia, oftalmologista, para cuidar dos nossos olhinhos. Também foi ela que contou pra Vó e pra mãe que nós somos meninos. A má notícia, é que o maninho podia ter ficado sem um olhinho... Nossa, Papai Noel, quando a Tia Marúcia disse isso para a mãe e a Vó, foi uma choradeira só! A Vó parecia a D. Gemma da novela, e a mãe é menos barulhenta, mas chorou muito também. Ela passou a noite inteira acordando a gente de hora em hora para pingar o colírio que a Tia Marúcia mandou a gente usar.
Hoje a mãe e a Vó levaram a gente na Tia Ana Letícia, que disse que os nossos olhinhos vão ficar bons, e teve mais choradeira, mas desta vez foi junto com risadas, vá entender as mulheres...
Meu irmãozinho já está bem melhor e comendo bastante da nova comida que a Tia Marúcia mandou a mãe dar pra ele e que eu dou umas “filadas” e posso dizer que é boa mesmo. Ele até já engordou um pouco e brincou comigo!
Por isso tudo que eu contei, Papai Noel, o senhor não precisa trazer nadinha para nós. O melhor presente de Natal de todos os tempos, nós já ganhamos.
Mas, como toda cartinha ao Papai Noel que se preze, esta também tem um pedido. Nós queríamos pedir ao senhor que agradeça ao Papai do Céu por nós, por tudo de bom que ele fez por nós. A gente tem agradecido também, mas como o senhor é muito próximo dele, seria bom que Ele ouvisse do senhor também.
Ah, só mais um pedido, se o senhor puder, peça ao Papai do Céu que ajude outros bichinhos necessitados , colocando no caminho deles, pessoas tão maravilhosas quanto a Vó Vivi e a Dinda Marce, que já salvaram 4 vidas! E se não for pedir demais, que Ele faça nascer mais pessoas como elas, assim a superpopulação de bebês no céu dos bichos vai diminuir e o amor, a generosidade, o respeito pelo próximo e a compaixão vão aumentar aqui na terra.
Obrigado por tudo, Papai Noel!
Com gratidão e carinho,
Jack Holmes e Johnny Watson



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6 comentários:

Ivo e Fátima disse...

Bem vindos Holmes e Watson.

Beijos (no Gafa, abraços)

Ivo

Anônimo disse...

RENDEU BEM TODA A TRAJETÓRIA, NÉ? PARABÉNS PELA ATITUDE DAS VÓS E MADRINHAS!
BJ CRIS

Luiz Borges disse...

São duas figurinhas! Avante Gatil! Um beijão do Filósofo-de-Pijama.

Anônimo disse...

Que história mais linda Ana!!! Ainda bem que existem pessoas como vcs no mundo que ajudaram esses dois bichinhos!!! Eles levaram a maior sorte do mundo!!! =)

Ana Carolina Gasparoto

Anônimo disse...

BAAAALLLLBIIII,VC TEM QUE ESCREVER
PARA CRIANÇAS....IMAGINE ESTA CARTA TODA COM IMAGENS ....LIVRO INFANTIL PURO...A INGLESA FICOU HEXA MILIONARIA COM HARRY POTTER.POR QUE BALBI NÃO PODE COM WATSON E HOLMES????BJO FLOWER QUE NÃO CONHECIA SEU LADO ESCRITORA

Ana Balbinot disse...

Flower só você mesmo para achar que eu poderia ser escritora, hahahaha! Adorei, amada! Mas por enquanto, vou ficando na nossa área de designer de interiores, que é mais a minha praia, e ainda muito melhor com você do meu lado!
Beijos