
Quem tem ou teve uma ou duas avós,
dessas avós presentes na vida da gente,
dessas avós que sempre sabem
como fazer a gente se sentir melhor,
seja lá qual for a situação,
tem muita sorte!
Hoje é o aniversário da minha avó Nadir,
e embora ela já tenha ido para o céu,
ela está sempre bem viva na minha memória.
A minha avó Nadir era só minha.
Pelo menos era no que eu acreditava,
pois, sortuda como sou,
a primeira vez dela como avó foi comigo
e durante 4 anos inteirinhos,
ela foi só minha.
Depois eu fui obrigada a dividí-la com o meu irmão,
mas, egoísta como são as crianças,
eu não a dividi assim, honestamente ...
A minha avó Nadir era mágica,
mas eu nunca contei este segredo para ninguém.
E até hoje eu não consegui descobrir,
como é que ela sempre sabia o que fazer
para me dar exatamente o que eu precisava,
na medida certa, na hora certa e principalmente,
na dose certa.
Quando eu fiquei "mocinha",
foi ela quem descobriu e me disse que era só isso,
que não era o fim do mundo
e muito menos uma diarréia incontrolável e esquisita
que não dava dor de barriga nem enjôo,
que era o que eu pensava que estava acontecendo,
apesar das explicações e prevenções
da minha mãe sobre o assunto.
Quando eu roía as unhas até sangrar
era ela que fazia mingau de maizena para curar
as unhas e a ansiedade pré-adolescente,
porque pelo menos naquele momento,
ao comer pelas beiradinhas para não queimar a língua,
eu fazia um exercício de paciência e tolerância.
(confesso que o remédio era tão bom,
que muitas vezes eu exagerava no ataque
já pensando no mingauzinho!)
Quando eu quis aprender a jogar tênis,
foi ela quem patrocinou o uniforme e equipamento completos.
Tudo do jeito que eu queria, do modelo que eu queria,
para fazer o sucesso que eu imaginava que faria,
se tivesse aquela estampa.
Como correr atrás das bolinhas perdidas
não era bem o que eu tinha em mente,
não foi ali que nasceu uma atleta,
mas ela nunca disse uma única palavra de cobrança
ou de desapontamento.
E continuou incentivando e patrocinando
curso de inglês,
aulas de tricô,
e tantas outras coisas.
Quando aos 14 anos,
antes de uma viagem de férias
que eu faria com meus pais e irmão,
em que eu ia encontrar uma paixão platônica
que não via há muito tempo,
eu surtei achando que precisava emagrecer e perder "barriga",
era a Vó Nadir que ficava horas,
todos os dias,
sem nunca me tirar a esperança de conseguir,
segurando as minhas canelas
enquanto eu fazia abdominais sem fim...
Os encontros com os namorados,
aconteciam nas escadas do prédio dela.
Os telefonemas intermináveis ,
aconteciam na extensão do corredor da casa dela.
As chegadas depois das festinhas,
aconteciam na casa dela,
que invariavelmente estava esperando,
fosse a hora que fosse,
com a mesma cara boa de sempre,
um tricô nas mãos,
e os olhos pequenininhos de sono.
Uma das mais antigas lembranças que eu tenho de mim,
é em um inverno no Rio de Janeiro,
e eu loirinha e branquinha, fazendo o maior sucesso
vestindo um poncho vermelho, azul e branco,
que a Vó Nadir tricotou para mim.
Foi ela quem me levou ao cinema
para assistir "E o Vento Levou",
foi ela quem, com lágrimas nos olhos,
me falou pela primeira vez
do filme Luzes da Ribalta,
foi tocada no piano por ela,
que eu ouvi pela primeira vez Le Lac de Comme,
foi ela quem me levou para assistir
o meu primeiro concerto de orquestra sinfônica,
com o Arthur Rubinstein como solista.
Nas férias de verão na praia,
era uma delícia entrar na água com ela,
sentar na perna dela,
e cantar com ela
"ópe, ópe, ópe, vamos a galope..."
Aprendi a chapinhar com ela,
aprendi a fazer pudim de leite condensado com ela,
aprendi a fazer tricô com ela.
Ninguém jamais preparou um peixe à escabeche como ela,
nem o bacalhau do Natal,
e muito menos o bolão do bacalhau que sobra do Natal,
muito embora a minha mãe seja uma cozinheira e tanto,
e a minha tia Vivian seja bastante esforçada,
comida de vó é simplesmente inimitável,
porque comida de vó é alimento para a alma.
E eu sou mesmo uma pessoa de muita sorte
por ter tido o privilégio de ser neta dela!
Com o carinho e a gratidão que eu sempre terei,
Feliz Aniversário,
minha inesquecível e muito amada,
avó Nadir!